Terra Separada II / Separated Land Series
(…) Depois o tempo passa e o mapa retalha-se. Do chão mineral, plúmbeo de matéria antiga e carbonizada, solta-se a bolha quente, o grande corpo vivo, complexa estructura vital, inteligente e selvagem. Capaz de gerar, rompe num rugido ecoante, libertando num momento singular toda a força das células. E esse corpo novo, rodopia, levita e na razão de mil vidas, ascende e perdura. Volume espesso, coisa significante, carregada. Lugar dinâmico que guarda as tensões novas e antigas entre os homens.
Neste regresso cíclico da matéria, no humilde processo da construção, acho-me; a tinta solta-se das mãos e dos gestos, com a violência de um princípio, urgente e gravitacional.
Mais corpo nesta dança hipnótica, mais ruído na superfície da mancha incontida. Os lugares já não são representações cartográficas; agora são lugares habitados, com paredes, barreiras, confinados e confinantes, contaminados e contaminantes. Da lisura da tinta erguem-se esculturas; materializam-se no ferro e no resto das árvores, dizem do seu lugar, ocupam. Nós andamos por entre os seus ângulos, redesenhando a sua forma. (…)
Fernando Gaspar
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