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(O corpo na arte ou o corpo como arte)
O corpo como território singular da afirmação do indivíduo na sociedade ou objecto colectivo, cifra, letra de um tempo. O corpo humano como sujeito, suporte ou linguagem. O tempo através do mais ancestral território da comunicação.
Lugar reflexivo, sílaba de um discurso ou o corpo como reivindicação do eu. Fonte da singularidade consciente, erro natural, subversão ou sobreversão. Coisa nova. Afirmação da posse e domínio pela mutilação com o passado divino. Pela mutilação, tão só! Pela marcação de outros sinais! Tatuagem simultaneamente apartadora e suturante. Resgate da coisa única, singularidade do restrito, gravura de nascença, marca de passagem, exercício semiótico.
Luta que vem dos fluidos primitivos, força que atravessa o osso e se arremessa contra a pele. Primeiro estágio da inquietação. Depois o exterior, táctil e visível, o cheiro e os líquidos marcadores matriciais, do apelo e repulsa. Gestos, impulsos, gritos telúricos ou o silêncio que sai dos olhos e sobe em arco pela distância ao outro. Contenção ou desarranjo. Afago ou coice tribal.
O corpo, altar sagrado e simultaneamente profano, falível e finito. Contraponto mundano e sincero da abordagem que, pela arte, até agora, o resgatava para o domínio do sagrado, como manifestação do transcendental revelado, representação fantástica, alegórica e ilusória.
Fernando Gaspar
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