2021 | Cada Lugar / Each Place | Convento do Espírito Santo, Loulé

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O Pintor no cântico da Pintura

Começamos o ano de 2021, com este pintor que nos traz uma alma pictórica de uma imensidão fogosa e única.

A pintura de Fernando Gaspar encontra se ligada a uma abstracção gestual com um Retenue que significa uma aproximação entre Pierre Soulages e nos negros profundos de Hans Hartung , processos esses de trabalho onde a vivência do pintor é aproximada ao pintor do cavalete, École de Paris e mais tarde o movimento Rapard- Surface.

Fernando Gaspar não está preocupado na sua linha de trabalho em estabelecer paralelos com a realidade visual, ele vê pela sua síntese, a sua linha situa se numa abstracção, onde o papel da imagem é referido na sua própria profundeza visual. Onde esses fundos parecem nuvens de um mundo onde a própria pintura reside em vácuos, eis o segredo!

Com uma coloração projectada numa linha que leva nos a um compasso de espera entre a composição e a profundeza da imagem reflectida na imagem do próprio quadro, tudo isto esclarece que a abstracção é projectada na tela, mas é ele observa e define o que é indefinível.

Se considerarmos que é sempre difícil de definir a pintura por palavras, compreendemos assim, que a pintura de Fernando Gaspar escolhe um caminho solitário, silencioso, projectado numa aventura, relacionando se entre a pintura e o diálogo, que esta própria interioriza.

 A cor aparece não como um apontamento decorativo mas sim na viagem onde ela se projecta quase numa monocromia dentro de uma vivência da própria cor monocromática, o tom, os tons que ele utiliza em cada quadro faz com que a composição criada reflicta um trabalho de dualidade onde a força impera num gestualismo dual entra a linha e a tela.

É interessante perceber que o intuito deste artista parece ser sempre o mesmo, marcando uma posição diferente, num minimalismo variando em series aonde se projecta o idêntico sendo sempre diferente, a persistência solitária deste pintor concentra se numa atenção profunda para se perceber onde esta a subtil diferença do mesmo sendo diferente.

Não quero deixar de mencionar que a sua pintura é algo que nos deixa marcas infindáveis na sua profundeza.

Fernando Gaspar situa se entre o gestualismos abstracto e o contemplativo da nuvem que aparece na textura da tela e distância se na sua viagem.

 Coerência essa entre a profundeza do dialogo que ele estabelece entre o oficio que toma a forma da pintura. 

Dou margem absoluta a esse mistério do concreto do visual, onde ele domina a técnica das cinzas carvão, indo actualmente para a escultura que acaba e permanece em painéis de pintura, pintura essa que o move até nós no fundamento da cultura e na diferença do que ele gera.

Figurar a memória, memórias no tempo, tempo esse dedicado a pintura pelo artista que nos transmite a sua visão interior plástica. 

João Moniz, Curador

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